A Fada do Dente

Cuidado com o seu (ou não) dente

Esta é uma história baseada em fatos reais. Os nomes de pessoas e lugares foram modificados para proteger a privacidade dos envolvidos.

Sinopse

Apollo é um jovem aventureiro e entusiasta da gastronomia que tem a oportunidade perfeita de visitar o novo restaurante enigmático em sua vizinhança. The Tooth Fairy promete uma experiência “de arrepiar até os dentes” e é lá que Apollo faz uma das melhores refeições de sua vida: os Wisdom Poppers, uma  iguaria picante feita por uma excêntrica cozinheira. Contudo, ao retornar para casa, Apollo é tomado por um calor desesperador que parece brotar de dentro de sua boca e se espalhar pelo corpo. Atormentado pelos efeitos da comilança, Apollo é obrigado a procurar por ajuda e a encontra no pior lugar possível quando é levado a um lugar sombrio, onde uma sequência de horrores se desdobra, revelando que a visita ao restaurante foi apenas o início de um ritual perturbador que ele jamais imaginou enfrentar.

OBS: Está é a versão em português. Clique aqui e leia a versão em inglês!

A Fada do Dente

Uma experiência gastronômica de arrepiar os dentes.

Apollo entrando no restaurande a fada do dente/tooth/teethApollo tinha acabado de chegar de uma longa viagem de trabalho e não tinha comida em casa. Era a oportunidade perfeita para experimentar o novo restaurante da rua de baixo. O lugar se chamava A Fada do Dente e prometia uma experiência culinária “de trincar os dentes”. As pessoas que visitavam o lugar o descreviam como diferente de tudo o que você já tinha experimentado. Naturalmente curioso e apaixonado por comida, Apollo sabia que precisava ver que tipo de lugar era aquele que prometia te deixar “chocado até os dentes”.

A porta soou um sino quando Apollo entrou e ele foi logo tomado pelo visual do estabelecimento. Parecia uma mistura de um sonho surreal e um pesadelo inquietante, uma criação mágica de estética insólita saída diretamente de um conto de fadas. Mas eram aqueles originais, aqueles com finais macabros. Não havia mais ninguém no restaurante e Apollo logo se animou, sendo fã de tudo o que era fantástico e misterioso. 

Apollo no restaurante a fada do dente/tooth/teethFazendo jus ao nome, o restaurante tinha tudo de Fada e de Dentes. As mesas eram de um branco amarelado, construídas de maneira que pareciam dentes empilhados um em cima do outro. O tampo das mesas era em alto relevo, como molares encaixados um do lado do outro, enfileirados para formar uma superfície plana. As cadeiras eram entalhadas de forma que se assemelhavam a mandíbulas abertas, com dentes de cerâmica irregulares e satisfatoriamente realistas ao longo das bordas. Os assentos eram rosados, como uma língua dentro da boca, almofadas tão macias que afundaram quando Apollo se sentou em uma delas. Sabia que a experiência já tinha começado quando só pôde descrever o conforto como “ser acomodado numa boca morna”.

Apollo no restaurante vendo os quadros de dente/dentes/tooth/teethEnquanto aguardava o serviço, Apollo observou o ambiente com calma, absorvendo cada detalhe da decoração das paredes, a qual pousava no limbo entre charme e horror: havia quadros com molduras estilo vitoriano de pinturas e fotos de pessoas dando seus melhores (e piores) sorrisos. Eram adultos e crianças de todas as idades com as bocas abertas e cheias de dentes. Dentes tortos, dentes retos, dentes podres, dentes amarelos e até mesmo dente nenhum. As lâmpadas acima das mesas eram candelabros, porém em vez de velas, eram dentes gigantes, caninos pontiagudos iluminados com uma luz amarela que dava ao ambiente uma atmosfera etérea, quase fantasmagórica.

O cardápio era, também, muito criativo e dentro do tema. Havia petiscos variados, refeições completas e um menu de bebidas. Apollo esperava que eles oferecessem algo como Leite Quente e Vitamina de Banana com cálcio. No entanto, os responsáveis por dar nomes aos itens foram muito espertos e Apollo sorriu ao ver coisas como Dose Anti-Cárie, Clareamento Gelado, Extração Indolor e Anestesia Geral. Leu todos o cardápio e decidiu pelo item que mais lhe chamou a atenção: uma refeição chamada Wisdom Poppers. Era o único prato que não listava os ingredientes no menu e ele nunca tinha ouvido falar de nada parecido com aquilo.

Apollo com cardápio no restaurante a fada do dente/dentes/tooth/teethApollo fez um sinal para chamar a garçonete e perguntar sobre o prato, notando pela primeira vez que não havia ninguém por perto. Mesmo assim, uma velha senhora surgiu da cozinha e veio até a mesa. Carregava uma bengala com uma estrela rosada na ponta, mas não a usava para se apoiar. Tinha uma pele cor de chocolate, e seus olhos eram dois pontos bem pretos num rosto cheio de rugas. Usava uma roupa de cozinheira de muitas cores brilhantes que fizeram Apollo se lembrar de um filme de conto de fadas. Seu cabelo estava firmemente preso por uma trança no alto da cabeça e ela usava uma tiara branca feita de dentes pontiagudos colados lado a lado. 

Estando mais perto, Apollo percebeu que a velha não tinha dentes, apenas um sorriso murcho de lábios que se alargavam sem sustento. Apesar do pouco tamanho, Apollo tinha a sensação de que a sombra da mulher se alongava e se esticava para cima e para os lados, muito maior do que o corpo que a produzia. Apesar do desconforto, Apollo apontou o prato no cardápio e perguntou do que se tratava. A velha explicou que era um prato salgado com ingredientes selecionados da região dela e tinha um elemento curioso: o prato era tão apimentado que corria o risco despertar o seu juízo. Apollo deu uma risadinha como se ela tivesse feito uma boa piada. A velha riu com ele e voltou à cozinha carregando sua sombra enorme por trás.

Apollo comendo wisdom poppers com dente/dentes/tooth/teethQuando ela retornou, Apollo não reconheceu quase nada do que estava sendo servido. Era uma travessa redonda com relevos de dentes esculpidos, dispostos em padrões circulares, sugerindo uma estranha simetria dentária. Os talheres eram de um material branco com cabos que pareciam dentes enfileirados lado a lado. A comida estava separada em porções e a primeira coisa que chamou a atenção de Apollo foram alguns bolinhos fritos. Eram fritos, com uma casquinha dourada por cima, e macios e brancos por dentro. E tinham o formato de dentes molares. 

As outras porções eram de tomate verde picado com cebola, uma pasta esverdeada que tinha um sabor forte, camarões vermelhos salgados e ainda mais uma porção de um vegetal estranho e viscoso. Os sabores combinavam perfeitamente e todas as porções tinham um sabor apimentado diferente, especialmente o bolinho. Apollo pediu uma porção extra antes mesmo de ter terminado de comer. E então ele comeu mais. Comeu muito e com grande vontade. Comeu até perceber que estava suando por conta da pimenta. 

Prestes a esvaziar a travessa pela segunda vez, Apollo ainda tinha vontade de comer, ainda não se sentia plenamente satisfeito, precisava comer mais. E então, apesar da advertência da velha cozinheira, pediu uma terceira rodada de Wisdom Poppers e foi experimentando os bolinhos com todas as combinações possíveis dos outros ingredientes.

Quando finalmente acabou, Apollo queria levar outra porção de comida para casa, mas foi convencido do contrárioapollo depois de comer muito. quando a garçonete informou que não era uma boa ideia, pois a pimenta ficava cada vez mais ardente com o passar do tempo e era “ruim para a sabedoria”. Apollo demonstrou a devida tristeza e se consolou com o fato de que estaria de volta assim que possível e pediria uma porção duplas de Wisdom Poppers. 

Ao sair, Apollo se surpreendeu que já estava escuro. Ele não sabia dizer se era uma noite quente ou se era apenas a sensação de calor crescente dentro de sua boca. Apollo aproveitava cada brisa para abrir a boca e sugar um pouco de ar frio. Comprou um picolé com um vendedor de rua e foi comendo no curto percurso até em casa. Ele se demorava com o sorvete encostado nos lábios procurando sentir algum alívio da ardência que sentia ao mesmo tempo que começava a se perguntar se não tinha comido além da conta. 

******

Mais de uma hora depois de seu banquete, Apollo se inquietava com o calor que se espalhava por seu rosto. Estava debaixo do chuveiro, tentando se convencer de que estava apenas exagerando e que banho gelado sempre tinha sido seu favorito. Especialmente com a água caindo diretamente dentro da sua boca enquanto ele ficava com a cabeça para cima em direção ao chuveiro. Ele perdeu a noção de quanto tempo passou fazendo gorgolejos com água fria sem engolir, mas, quando desligou o chuveiro, sentiu o pescoço rígido e percebeu que seus dedos estavam enrugados pelo tempo embaixo d’água. Inquieto, examinou meticulosamente o espelho em busca de sinais de alergia ou ferimentos causados pela comida, mas não havia nada.

apollo bebendo leite desesperadamenteTentou assistir um programa na TV, mas nada lhe tirava a sensação de estar com a boca em chamas. Bebeu um copo de leite, comeu alguns doces que guardava para o Halloween, tomou iogurte com frutas, uma tigela de salada e chegou a comer um cubo de gelo. Tudo inútil. Sentia que um dragão que cuspia fogo em seu interior. O calor irradiava por baixo de sua língua e começava a escorrer pela garganta. 

Seu estômago estava estufado, sentia-se como se tivesse comido tudo o que havia em casa, o que não estava longe da verdade. O gelo tinha deixado suas gengivas sensíveis e agora sentia que sua boca pulsava. Sentia calor dentro da boca, a respiração era como um bafo quente e seu nariz começava a escorrer. Apollo transpirava como se estivesse dentro de uma sauna. 

Apollo sofrendo com dor.Mediu sua própria temperatura, mas não estava com febre. A única diferença que sentia agora era o pulsar que tinha dentro da boca, perto da garganta. Tentava dormir, mas apenas entrou e saiu de um sono perturbado e febril. Seus lábios tinham uma canção própria, um vibrato que soava por dentro de seus ouvidos. Quando abria a boca, sentia como se estivesse engolindo uma lufada de vapor e sua pele agora estava sensível ao toque. Sua gengiva estava pulsando como um concerto de rock no último espaço disponível para os dentes do siso e a cada segundo ficava mais doloroso abrir e fechar a boca.

O maxilar pulsava como gritos de agonia em uma paralisia do sono. Na frente do espelho, tentou abrir a boca o máximo que pôde, mas a dor era tanta que o simples movimento com o maxilar o fez gemer como uma porta de dobradiças enferrujadas. Quando finalmente conseguiu ver o interior da boca, ficou horrorizado com a aparência das gengivas no fundo da boca. Estava tudo tão inchado que parecia que tinha quatro pérolas, bem redondinhas, em cada lugar onde deveria nascer um siso. 

apollo com dorApavorado, Apollo decidiu ir atrás de ajuda. Ao se pôr porta afora, teve a desagradável revelação de que já era dia e o sol estava escaldante. Imediatamente, sentiu-se abraçado por uma bola de fogo celestial, tão ofuscante era o calor. Sentia sua cabeça como uma frigideira e a boca como uma fornalha. Suas gengivas pulsavam tão intensamente no fundo da boca seus lábios não se fechavam mais. Quando se deu conta, Apollo estava com a língua pendurada para fora com uma gota de saliva prestes a pingar. Olhou para o chão e teve a impressão de que a saliva fez um chiado quando atingiu o concreto da calçada, como uma gota de água numa panela quente. Em estado de delírio, Apollo estendeu os braços à frente, como um zumbi, pois não conseguia manter os olhos abertos, e empurrou a porta do primeiro estabelecimento que encontrou. 

Apollo com dor no dentista Lá dentro, o ar era tão fresco que Apollo sentiu o corpo inteiro amolecer. Pendeu para a frente e caiu no chão. Em seguida, sentiu o corpo ser virado de barriga para cima. Estava tão suado que a camisa grudava em seu corpo. Abriu os olhos, sentindo as órbitas ardendo, e focalizou o rosto da cozinheira banguela do restaurante em que estivera na noite anterior. Ela o encarava, mas havia uma lâmpada bem acima da cabeça dela que não deixava que Apollo soubesse exatamente a expressão em seu rosto. Ele tentou abrir a boca para pedir ajuda, mas sua língua estava enorme e não conseguiu falar nada. 

Apollo ouviu a cozinheira estalar os lábios, fazendo um pop,  e então se sentiu sendo erguido do chão, como se fosse um saco de batatas. O mundo passou como um borrão aos seus olhos quando ele foi alojado por cima do ombro de alguém. Não conseguia manter os olhos abertos e a saliva escorria pelos cantos de sua boca, que não fechava mais. No entanto, no meio da confusão, Apollo distinguia reflexos de luz pela visão periférica, um caleidoscópio de cores que dançava em sua visão turva, como se ele estivesse olhando através dos vitrais de uma igreja. Ele tentou alcançar a luz e seus dedos tocaram em algo macio como seda, mas ele não conseguiu identificar o que era.

Enquanto era carregado, Apollo não ouvia mais nada. Nem vozes, nem qualquer outro barulhos. A pessoa que o segurava disse alguma coisa e Apollo teve certeza que era uma voz de mulher, a cozinheira do restaurante. Ainda assim, não conseguia imaginar aquela velha pequenina manuseando um corpo tão maior que o dela com tamanha maestria

De repente, Apollo sentiu seu corpo ser  cuidadosamente posicionado em uma superfície um tanto escorregadia e com um cheiro muito característico, o que ajudou Apollo a reconhecer que era couro. No entanto, tinham outros cheiros no ar e reconhecê-los só aumentou o desespero de Apollo. A ansiedade lhe deu uma onda de adrenalina e o cheiro de álcool e éter o impulsionam para fora da cadeira em que estava deitado. Ele tentou se erguer, mas então uma mão agarrou seu pulso. Era a cozinheira do Fada do Dente. Dessa vez deu para ter certeza, pois ela olhou bem para ele e sorriu com sua boca murcha. 

A mão dela em seu pulso era como uma barra de ferro, os dedos frios o apertavam firmemente. Apollo se debateu, esperando que sua pouca força fosse o suficiente para demonstrar o quanto não queria estar ali, mas não sabia se estava fraco demais ou se a mulher era mais forte do que parecia. 

Apollo sentiu os pulsos sendo apertados contra os braços da cadeira, e tentou gritar quando ela fechou fivelas de amarras de couro. A velha se aproximou de Apollo e o segurou pelo queixo. Ele soltou um grito involuntário de dor enquanto ela o forçava a abrir a boca. A velha estalou os beiços num pop de desgosto e resmungou para si mesma que ele estava inflamado. O pateta tinha comido demais, apesar dos avisos, e agora seria mais difícil de aplicar a anestesia. Chegou ainda mais perto e puxou uma luz direto para a cara de Apollo. Ele não sabia dizer se o lugar era claro ou escuro, tão ofuscado pela luz e pela dor que sentia. 

Apollo amarradoA velha sem escrúpulos então colocou um dedo longo dentro da boca de Apollo e cutucou sem gentileza suas gengivas inchadas, embaixo e em cima. Cada toque foi como ter uma faca atravessando seu corpo, mas ia deixando a velha cada vez mais animada. Ela contou até quatro enquanto tateava as gengivas inflamadas de Apollo e, quando terminou, não estava nem de longe tão insatisfeita quanto tinha estado antes. Em vez disso, puxou os lábios murchos num sorriso deliciado.

Apollo estava aterrorizado e incapacitado, preso pelos pés e pelas mãos. Tentou olhar em volta, mas havia uma pressão absurda em sua cabeça e os olhos estavam inchados e cegos pela luz. A velha reapareceu em seu campo de visão segurando uma agulha. Voltou a segurar Apollo pelo queixo e aplicou uma injeção em seu maxilar, mas do lado de fora. Doeu terrivelmente e Apollo teria gritado, mas começou a sentir a boca paralisar aberta contra sua vontade. Tentou fechá-la e então sentiu outra agulhada do outro lado da mandíbula. Então, como que espantado pela audácia da velha, o queixo de Apollo se abriu completamente. 

A velha tinha agora outra agulha e o orientou a não se debater ou ela poderia acabar furando sua língua. Obviamente, surtiu o efeito indesejado, e Apollo se debateu sim quando a agulha veio de novo em direção à sua boca. Consequentemente, a advertência se cumpriu e a velha acabou por aplicar a injeção na língua de Apollo. Ele chorou, mas isso era muito mais pelo susto do que pela dor. O pavor o consumia e ele sentia um desamparo atordoante, um desespero desolador. 

A velha fez de novo um pop com os lábios secos, mas não interrompeu o processo. Com grande força e eficiência, enquanto cantarolava uma rima infantil, ela ajustou a cadeira de modo que Apollo agora estivesse quase sentado. Ela prendeu uma faixa na testa dele e o fez ficar com a cabeça presa para cima. Sua boca estava escancarada agora, com os músculos em volta paralisados, e sua língua – ou “a almofadinha”, como a velha a chamava – agora pendia para fora da boca, salivando no babador em seu peito. 

Apollo finalmente conseguiu focalizar aquele demônio quando ela ficou parada na sua frente. Seus olhos se arregalaram ao perceber que o mesmo conjunto de cores e luzes que tinha visto anteriormente vinha dela. Na verdade, vinha das asas dela. Podia estar delirando e prestes a morrer, mas Apollo era capaz de reconhecer uma fada se ela estivesse na sua frente prestes a lhe arrancar os dentes. 

Quando a velha voltou com mais uma agulhada, Apollo deu os devidos créditos ao universo por tê-lo colocado como protagonista de um evento tão miseravelmente cômico. A próxima agulha lhe atingiu na pérola esquerda na parte de baixo da boca. Sim, era realmente muito engraçado que Fada do Dente fosse uma velha banguela. Apollo ia perdendo o foco a cada estocada aguda e, em meio a tanta dor, só conseguia pensar que era um absurdo que a fada velha não estivesse usando luvas. 

Paralisado, Apollo não pôde fazer nada quando a fada voltou com um bisturi e iniciou o processo de extração dos seus dentes. Por mais anestesiado que estivesse, ele sentiu muito mais do que gostaria. A velha não era exatamente delicada e comentava o tempo inteiro, entre pops de satisfação, que os dentes de Apollo estavam conectados aos seus nervos. Ela estalava os lábios murchos e falava devaneios sobre a qualidade dos dentes, que conseguiria remover todos inteiros e que eram exatamente o que ela precisava. 

Apollo sentiu o corpo sacudir mais de uma vez enquanto a fada remexia em sua boca. Ela fez força e muita pressão nos dentes de baixo. Seus nervos se manifestaram nos cotovelos, nos ombros e atrás dos joelhos. Nos dentes de cima, ela praticamente se deitou sobre ele e doeu muito mais do que ele queria. Foi a única vez que ele conseguiu gritar durante todo o processo. Sentiu uma pressão avassaladora atrás dos olhos e dentro dos ouvidos; pensou que ia desmaiar, mas a Fada lhe deu dois tapinhas na cara e anunciou que estava quase acabando, só faltavam os pontos. 

Era de se esperar que fosse doer menos que a extração dos dentes, mas Apollo tinha a terrível sensação de que estava com a boca em frangalhos, que as gengivas eram apenas pedaços de carne que precisavam ser remendados, e chorou a cada ponto que a Fada costurava em sua boca com suas mãos sem luvas. 

A Fada limpou e ajudou Apollo a fechar a boca. Ela então lhe mostrou “as preciosidades” que tinha lhe arrancado. Eram peças perfeitas, dentes enormes e brancos que nunca tinham visto sequer a luz do dia. Apollo se sentia distante, como se flutuasse para fora do próprio corpo. A Fada sorria, satisfeita, enquanto segurava dente por dente na frente de Apollo, abaixo da luz branca para ver cada detalhe. 

Ela passou tanto tempo olhando fixamente para os dentes que Apollo pensou que ela tinha se esquecido dele, imaginava se ela o abandonaria ali para morrer. No fundo de sua consciência, se perguntava quantas pessoas morriam depois de uma ida ao dentista. Baseado naquela experiência, pelo menos uma por ano.Fada do dente e o Apollo Em meio a devaneios, Apollo teve noção de que a velha estava se mexendo novamente. Ela estava… comendo os dentes dele? Não, espere. Ela estava colocando os dentes de Apollo dentro da própria boca e os encaixando em sua própria gengiva, um de cada vez.

Para atingir um nível absoluto de completo terror, Apollo percebeu que a velha ficava cada vez mais parecida com, bem, uma fada. A cada dente encaixado ela ficava mais alta e forte, mais jovem e bonita, mais mágica e brilhante, cada vez mais parecida com uma criatura etérea. Ela estava completamente satisfeita e isso ficava evidente pela gargalhada crescente que começava a ecoar pelos ouvidos de Apollo. A Fada agora parecia ter luz, brilhava intensamente e de forma crescente. Apollo teria saído correndo se lhe fosse dada essa escolha, mas não havia nada que pudesse fazer a não ser encarar, fascinado, o brilho crescente, o caleidoscópio de cores, a risada…

********

Apollo acordou com o barulho do próprio ronco. Tinha dormido de boca aberta e estava com a garganta seca. Sentia uma leve dor de cabeça, mas, enquanto voltava a si, foi lembrando do dia anterior, do restaurante, da Fada. Olhou no relógio e era cedo da manhã, mas não conseguia se lembrar que dia era. Correu para o banheiro, em pânico, e examinou o interior da boca. Não havia nada de anormal lá, exceto quando examinava muito de perto, que podia ver um X cirurgico em cada uma de suas gengivas onde deveriam ficar seus últimos dentes.

Apollo pensou em rir. Não Apollo Acordando do "pesadelo"era possível, era uma completa loucura que aquilo lhe tivesse acontecido. Não era real, não poderia ser. Certamente aquelas cicatrizes sempre estiveram ali. Caminho até a cozinha para um copo d’água e percebeu um saco de papel em cima do balcão. Foi até o pacote e leu o cartão que dizia: Coma o quanto quiser, é seguro agora.  

Em negação, Apollo foi para o quarto. Sentiu que deveria chorar, embora não soubesse o porquê. Deitou-se na cama de bruços e enfiou a cara no travesseiro para gritar de desespero. Foi quando seus dedos esbarraram em alguma coisa fria. Curioso, Apollo ergueu o travesseiro e lá estavam quatro moedas grandes. Peças dourada de ouro tão brilhante e polido que produziam um barulho suave ao toque. Entalhada de um lado, um dente do siso perfeito; do outro, asas de fadas cintilando em centenas de cores diferentes.

Entorpecido, Apollo pegou as moedas, foi até a cozinha e comeu uma porção gigante de Wisdom Poppers enquanto assistia a um documentário sobre pessoas que declaravam terem sido levadas por fadas. 

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You walk into a restaurant that looks part dream, part nightmare. What’s your first thought?

You see a dish called ‘Wisdom Poppers’ with no ingredients listed. Do you…

As you sit down, you notice the chairs are shaped like jaws with “teeth” around the edges. Your reaction?

Apollo no restaurante a fada do dente

A woman without teeth, wearing a tiara made of fangs, comes to take your order. What do you do?

Apollo com cardápio no restaurante a fada do dente/dentes/tooth/teeth

You notice the menu offers spicy dishes with “heat levels.” Which do you pick?

The server recommends a spicy drink to cool you down. You…

The decor includes teeth chandeliers and jaw-shaped chairs. How do you feel?

You’re offered a “Tooth Fairy’s Special” dessert. It’s a mystery. Do you…

After the meal, you’re given a souvenir tooth with your name on it. Your reaction?

Apollo comendo wisdom poppers com dente/dentes/tooth/teeth

Reflecting on the experience, how would you describe the Tooth Fairy Restaurant?

Which Tooth Fairy Restaurant Guest Are You?
The Bold Adventurer 🌟

You’re drawn to new experiences, and nothing—not even eerie restaurants—deters you. Every strange dish or spooky theme only adds to the fun!
The Thrill-Seeker 🔥

You live for the thrill and embrace every unexpected twist. A restaurant like this is perfect for your adventurous spirit.
The Skeptical Explorer 🧐

Curiosity drives you, but you prefer a hint of caution. You’re brave enough to explore new places but keep an eye out for any surprises.
The Suspicious Wanderer 🕵️‍♂️

You’re observant and cautious, noting every strange detail. A place like this keeps you on edge, but you find it intriguing nonetheless.
The Cautious Realist 😅

You prefer things predictable and safe. This restaurant may be a bit too odd for your taste, but it’s certainly an experience you won’t forget.
The Foodie Dreamer 🍴

You’re enchanted by unique dining experiences, and the Tooth Fairy Restaurant’s quirks make it a dream come true. Every strange dish and detail adds to the magic for you!

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Sobre o(a) autor(a) dessa postagem:

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Heloisy

Nascida no interior da Bahia, Heloisy não tem nenhuma paciência para falar de si mesma. English Teacher pela força do destino, adoradora da Ciência e das artes ocultas, obcecada por Fantasia e teorias da conspiração, e grande fã da Internet, sempre achou que contar histórias é o melhor dos ofícios. Acadêmica em Ciências Sociais e muito versada nas artes do "bom dia pra quem?", Heloisy acha que quando a vida te dá limões, você tem que derrubar o limoeiro. Detesta vizinhos, tem pavor de visitas e seu hobby favorito é fingir que não está em casa.

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